O meu País - A minha vergonha
Meu filho de 20 anos surtou em Dezembro de 2014, naquela noite eu não dormí pois ele ouvia e enxergava coisas horríveis, me chamava a cada meio minuto, foi muito triste ver a expressão de medo no rosto do menino que amo, cuidei e zelei por 20 anos. Aquela expressão e todo aquele "terror" , nunca mais sairá da minha memória. Quem dera me livrar de tais lembranças.
Levei ele ao PA e nada podiam fazer por ele, a opção era levá-lo até o hospital regional da cidade e largá-lo lá. Pensei, pensei... e concluí que ele certamente não guardaria boas lembranças de possíveis "procedimentos"; posso imaginar os procedimentos em um paciente em surto psicótico; esquizofrenico, e bastante alterado. Tomei minha decisão, e aceitei os riscos. Fiquei com ele em casa acordada toda uma noite, vivendo todo tipo de terror, derrepente ele gritava, ou batia a cabeça na parede, tentou pular a janela diversas vezes.. disse em dado momento que tivera uma idéia "revolucionária" e eu precisava deixá-lo sair...então socava a porta, conversava com pessoas em uma realidade que não era compartilhada com a minha, aquele mundo assustador pertencia somente a ele. Foi um horrível episódio em minha vida. Assim como vê-lo entrar pela porta com a cabeça totalmente raspada e toda ferida, eram cortes e mais cortes...
Graças a Deus, a dor pode durar toda uma noite. Mas um novo dia sempre chega. Glória a Deus!
E quando clareou o dia peguei meu talão de cheques, chamei Jesus para ir comigo e fui sem rumo para o centro da cidade com ele, atrás de qualquer centro-medico que eu certamente iria encontrar. Andamos e andamos muito ... E como esperado achei um centro medico com tres psiquiatras, três clinicas diferentes.
O primeiro só atendia depois das 16hs, a segunda não tinha horário, o terceiro foi o meu salvador. Se eu pudesse fazer uma analogia; pense que sofrí um acidente de carro, com meu filho dentro dele, em uma estrada deserta... Aquele psiquiatra sentado alí, a minha frente: era o RESGATE chegando. Gentilmente me atendeu sem previo agendamento, esperei 20 min no maximo até ser atendida. Ele fez receitas, explicou o que estava acontecendo... e ainda aceitou um cheque pré datado. Ele esta em minhas orações agora.
Ele me pediu também um SPECT do cerebro do meu filho. Fiz o SPECT tempos depois, e voltava la, pegava receita, pagava com cheque pre datado, comprava remedios com cheque pre datado e os cheques voltavam... meu filho cada dia mais "abobado", realmente não sei o que é mais terrível; vê-lo assustado com aquelas caras e bocas que eu nunca tinha visto ou, ver ele andando pela casa devagar como um senhor de 90 anos, dormindo, acordando, dormindo, acordando...
O PAPS da cidade e o CADS fizeram uma bagunça que até hoje não compreendo. Não enxergo dificuldade alguma no exercício de abrir uma tabela; em um programa com interface amigável, no computador e escrever um nome e marcar uma bendita data. Mas meu filho ficou rolando de lá para cá. Meses! Por fim decidiram acolher ele no PAPS.
E nesse tal PAPS pessoas despreparadas, insensiveis e muito mal educadas; o tipo de gente que deveria trabalhar em abate de porcos, JAMAIS na função que exercem. Tratam uma mãe que passou o que passei, de modo leviano como se vivessem em um País sem leis. A mulher que me atendeu sugeriu até que eu enviei meu filho sozinho até lá. E disse que eu era mentirosa, pois não houve demora no atendimento dele. MESES foi o tempo que esperei, meses (PLURAL) E é claro que ele precisou ir sozinho. Ele estava bem naquele dia e tenho crianças para alimentar e levar para escola no horario de almoço.
Então o psiquiatra que o atendeu olhou o SPECT do menino (o primeiro psiquiatra nunca mais pude pagar, então ele não viu o SPECT) e disse que não servia de nada, que não tinha utilidade para ele. ?????
Assinou meia duzia de receitas e enviou meu filho para casa, com medicação para 120 dias!!! Nenhum programa para ajustá-lo, oficinas para animá-lo, fazê-lo produzir... não tinha nada. Foi o suporte mais ridiculo e medíocre que ví em toda a minha vida: remedios que pareciam bombas (busquei e li todas as receitas) Nenhum deles gratuíto. E ainda esqueceu de dar ao menino documentação para previdência , a mesma que ficou 5 meses sem dar a ele um tostão. Meu marido ficou desempregado e fui a falência com cheques sem fundos a perder de vista pela cidade. Uma vez falida não podia pagar nem meu aluguel, ( e deixei de pagar meu aluguel para pagar o tratamento de meu filho) imaginem então todos aqueles remedios caros ... então meu filho surtou novamente depois de 2 meses de ócio, confusão e solidão.
Liguei no SAMU e um "animal" me atendeu, aquela criatura em nenhum lugar do mundo pode ser considerado gente, tamanha a ignorancia daquele "ser". Um cavalo seria mais amistoso, imagine; meu filho sofrendo, ouvindo e vendo aquelas coisas horriveis e ele tripudiando de mim ao telefone. Depois de encher bastante a p*** do meu saco (perdão Jesus, perdão!) ele então me transferiu para o medico que sem me surpreender, parecia estar embreagado. Eu mal podia entender uma frase inteira do homem, atrevido e debochado disse que era "o medico do SAMU" quando eu perguntei o nome dele. E ainda repetiu a mesma porcaria para meu marido...
As 04:10 daquele fatídico dia eu fiz a chamada telefonica. A ambulancia só chegou perto das 07:00 hs. E meu filho foi internado na ala psiquiatra de um hospital publico aqui na cidade; nos disseram que por 3 dias ele não poderia receber visita. Então no quarto dia fui até lá, me identifiquei como a mãe dele e a funcionária na recepção me disse que eu só poderia entrar as 14:30hs pois ele ficava atrás de um portão com cadeado, (uma JAULA?) foram essas as palavras daquela mulher. Nem era 1 da tarde, ainda. Estou com anemia crônica e baixa imunidade, não deveria ficar circulando por aí e insistí que ela me deixasse ver meu filho. Estou doente desde que nessa cidade cheguei, nada parece funcionar direito por aqui. Estou falida. Estou deprimida. E ela foi igualmente atrevida, malvada, víl e também fez questão de dizer que não tinha medo de mim que eu podia chamar quem eu quisesse, mas eu não ia entrar. Saí de lá e vim embora para minha casa.
Pela minha cabeça passaram as coisas mais horriveis que eu não queria imaginar, ora, por que meu filho não podia me receber? o que tinha de errado lá? o que fazem com os pacientes? Por experiência própria, crescí com um tio que era internado em hospitais psiquiatras algumas vezes ao ano e não podíamos sequer "falar" o nome da instituição ou do bairro, pois bastava tocar no assunto: e ele ja ficava nervoso, alterado e bastante transtornado. Pelo que meu filho esta passando, meu Deus? Por que pessoas quase que exclusivamente em nosso País conseguem violar leis tão comumente e ficar na impunidade?
Quando você vai a um restaurante e pede para conhecer a cozinha e, isso te é negado...você ainda vai querer comer lá?????
Hoje liguei para lá. Para o telefone da enfermaria (no mesmo andar que ele está) e pedi para falar com meu filho. Não me deixaram. Quem me atendeu segundo meu marido que esteve la no primeiro dia; é uma espécie de "zelador" e disse que parece ter problemas mentais, e percebí isso apenas falando com ele ao telefone.
Então pesquisei e encontrei na nossa constituição a LEI N° 10.216, em paragrafo único - São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; ( leu isso? a oração para mim parece bem clara)
Aqui encerro o meu desabafo. E repito: eu tenho vergonha do meu País. Estou morrendo um pouquinho a cada dia.
Só o que posso fazer é orar por todos eles, especialmente pelo meu filho e pedir a Deus que o proteja. Pois é na mente e da mão dos Homens que nasce o mal.
Vívian R.
21 de maio / 2015